Responsáveis pela classificação indicativa têm rotina de spoilers e segredos — Ministério da Justiça e Segurança Pública
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Grupo de servidores se dedica à ficção. Sala de trabalho tem sofá, TV de tela plana e videogames de última geração
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publicado:
24/07/2017 11h03
última modificação:
24/07/2017 11h03
Por Ana Paula Andreolla, TV Globo
24/07/2017
Em uma sala da Esplanada dos Ministérios em Brasília, palco da crise política, a realidade passa longe e o que vale é a ficção. A luz fica apagada quase sempre e os funcionários, que ganham entre R$ 5 mil e R$ 8 mil, passam o tempo sentados em um sofá, assistindo TV ou jogando videogames de última geração.
É neste espaço, em um andar do anexo do Ministério da Justiça, que trabalham servidores públicos que, para muita gente, têm o emprego dos sonhos: são os funcionários da área de Classificação Indicativa.
Eles passam o dia analisando DVDs, programas de TV , jogos e os seriados mais comentados na internet. Tudo em primeira mão, antes de ser lançado no mercado. Também são eles os primeiros a assistir a todos os filmes – até três semanas antes da estreia no cinema. A sessão é privada e acontece em uma minissala de cinema 3D, onde só funcionários credenciados podem entrar.
Ser pago para passar horas assistindo TV e zerando jogos que só serão lançados dali a seis meses parece mesmo a descrição do trabalho ideal. Mas quem pensa que é só diversão, se engana. A missão, ali, é de muita responsabilidade.
O que é a classificação
Os funcionários da Classificação Indicativa analisam cerca de 15 mil processos por ano. A avaliação do conteúdo é para garantir que material impróprio não chegue ao público infantil. A equipe avalia se há palavrões, nudez, violência, drogas e o tipo de imagem exibida.
Coordenador do setor, Eduardo Nepomuceno explica que a classificação de uma cena de assassinato, por exemplo, pode variar de 10 à 18 anos. O que determina, segundo ele, é se o homicídio teve requinte de crueldade e se a cena exibe detalhes da violência.
Se for uma cena sangrenta, que retrata de perto a violência, a tendência é que a classificação seja elevada. Mas se for mostrada de longe, no escuro, pode receber uma classificação menor. Cada análise gera um relatório, que detalha todas as ocorrências e que posteriormente é publicado no Diário Oficial da União.
Para trabalhar no setor de classificação indicativa, é necessário prestar o concurso público para o cargo de analista técnico do Ministério da Justiça. Ao ingressar no serviço, o servidor assina um termo de confidencialidade para garantir que nenhum spoiler vai sair dali.
Quem trabalha no setor diz que gosta do que faz. Henrique Oliveira da Rocha, de 34 anos, é um dos integrantes da equipe. Ele chega a Esplanada por volta das 11h, liga o computador, aperta o play e até as 20h é responsável por fazer a análise de conteúdos de TV. Novelas, reality shows, seriados – tudo passa por ele.
O servidor público chega a produzir até oito relatórios por dia, e todos precisam ser muito bem detalhados com as ocorrências do material analisado. “Temos que pausar toda hora, descrever a cena, anotar as ocorrências e explicar o motivo de você dar aquela classificação”, explica.
“Também tem o lado ruim. Em casa, você pode escolher o que você quer assistir. Imagina ter que assistir até o final, pausando a todo momento e anotando, uma série que você não gosta?”, diz Rocha. De acordo com ele, o trabalho nunca acaba. “Tem oito anos que trabalho aqui. Nunca fiquei um dia sem fazer nada”.
O mesmo acontece com os jogos. Rafael Figueiredo Vilela, de 29 anos, é um dos responsáveis pela classificação de jogos de videogame, jogos online e RPG. Ele passa de quatro a cinco horas por dia analisando jogos inéditos, e diz que, como todo trabalho, tem o lado bom e o lado ruim.
Vilela é formado em ciências políticas e está concluindo o curso de medicina. Mesmo assim, a resposta sobre o que ele mais gosta de fazer é fácil: jogar. “Passo entre uma e duas horas por dia jogando em casa. Mas aí, jogo o que eu quero”.
“É importante ressaltar que a classificação indicativa é uma política pública, sobretudo, de informação à família. Ela é apenas informativa. A decisão final sobre o que as crianças devem ou não assistir cabe aos pais ou responsáveis”, explica o chefe de gabinete da Secretaria Nacional de Justiça, Bernardo Lafaerté.
Para ele, é fundamental não confundir a classificação indicativa com censura, até porque a classificação foi uma conquista da democracia brasileira. “A Constituição de 88 acabou com toda a forma de censura, mas que deu à União a atribuição de fazer a classificação, com a finalidade indicativa”, finalizou Lafaerté.
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Advogado em São José do Rio Preto